A canção “Fever” (Febre), originalmente composta por Cooley & Blackwell, teve a sua interpretação mais famosa pela voz de Peggy Lee, que gravou a canção em finais dos anos 50. Desde então a canção ganhou uma dimensão universal e não há quem não a conheça.
“I get a fever that’s so hard to bear.”
Obviamente que a canção se refere à febre sentimental e não à febre que nos atira para a cama. Mas é desta que vamos falar. O que é então a febre?
Do ponto de vista biológico, a febre ou pirexia, é uma alteração na temperatura interna (e não superficial) do organismo acima do normal (36.5ºC-37.5ºC) e é geralmente sinal que o sistema imunitário está a lidar com um agente infeccioso (há outros motivos mas bastante menos comuns- ex. doenças oncológicas, hipertiroidismo) (1). Ou seja, a febre não é uma doença, mas sim um sintoma e marca geralmente a fase aguda da resposta imunitária.
Mecanismo de indução da febre (Fonte)
A temperatura corporal é controlada pelo hipotálamo e corresponde geralmente à temperatura óptima para o funcionamento da nossa máquina metabólica. No entanto, quando há uma infecção, as células do sistema imunitário vão libertar moléculas sinalizadoras (citocinas) que atuam no hipotálamo levando a um aumento da temperatura do corpo. Essa é a razão porque, por exemplo, trememos de frio antes de termos febre; é o sistema nervoso autónomo que, para responder ao novo set-point de temperatura do hipotálamo, leva à contracção muscular para gerar calor (2).
Qual é a vantagem?
O aumento da temperatura corporal vai criar um ambiente desfavorável ao desenvolvimento dos agentes patogénicos (vírus e bactérias), sendo por isso uma importante primeira linha de defesa no combate às infecções (1, 3). É por isso importante ter presente que, não se deve recorrer à utilização de antipiréticos – fármacos (e.g. paracetamol, ibuprofeno) que vão aturar sobre o hipotálamo e induzir a normalização da temperatura corporal* – mal se tem um pouco de febre (4). Acresce que, existem estudos laboratoriais que mostram que alguns antibióticos (fármacos utilizados no tratamento de infecções bacterianas) são mais eficazes a temperaturas acima dos 37ºC (1).
Apenas quando a febre causa verdadeiro desconforto (e.g. dores de cabeça), ou quando a temperatura corporal aumenta subitamente para próximo do 40ºC, se deve recorrer ao uso destes medicamentos. Acima desta temperatura corre-se o risco de hipertermia e começa a ocorrer citotoxicidade com perda de importantes estruturas celulares e por isso o risco de sequelas aumenta (1, 4).
* alguns antipiréticos são também anti-inflamatórios pelo que parte do efeito de descida de temperatura pode resultar desta propriedade.
Até breve!
Referências Bibliográficas:
(1) Walter et al. 2016. The pathophysiological basis and consequences of fever. Critical Care 20: 200
(2)Owen, J. et al.2012. Kuby – Immunology. 7th Edition, McMillian Learning
(3) Small, P.M. et al. 1986. Influence of body temperature on bacterial growth rates in experimental pneumococcal meningitis in rabbits. Infect Immun. 52: 484–487.
(4) Sullivan et al. 2011. Clinical Report—Fever and Antipyretic Use in Children. Pediatrics 127: 580-587.